"Também vós leigos podeis viver a espiritualidade das Filhas de Sant'Ana; ser os cem braços e chegar lá onde as Filhas não podem chegar" Intuição de Rita de Maggio - 09 de dezembro de 1981


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Advento

 ADVENTO 2011


“VINDE LOGO EM MEU AUXÍLIO

           
            Uma invocação familiar ao “homem do saltério” passaria inadvertida, comum as outras expressões do mesmo gênero: “vem”, “escuta-me”, “aproxima-me o ouvido”, “ajuda-me”, “preciso de ti”.
            Esta é diferente; há um “convite”: vinde logo!
            É mais que um esperar confiante. Aqui foi revelada uma necessidade, talvez um evento dramático que se teme deva acontecer ou uma responsabilidade que se deve assumir e que nos encontra despreparado, com medo...
            O pedido de ajuda revela sempre aspectos da precariedade da vida, uma necessidade de segurança, a ânsia de superar situações difíceis. Ainda: vinde logo anuncia perigos e medos que não se sabe dominar; sobretudo quando nos descobrimos particularmente impotentes. Aquele “vinde logo”            se torna ainda um “grito”... Um eco que o salmista prolonga por todo o saltério, quase a recordar-nos que... não podemos deixar de vigiar!
            O saltério é o livro da espera, da chegada de Deus, da sua ajuda: “se o Senhor não construir a casa, se não proteger a cidade, em vão trabalharão os construtores” (sl 127); ainda Jesus: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). São apresentados 70 salmos de súplica, de ânsia, de espera, para amadurecer este “grito” que não por acaso a liturgia da Igreja coloca no início do nosso abrir os lábios para a oração: “Vinde, ó Deus em meu auxílio, socorrei-me sem demora!”
            O gritar “vem depressa” acompanhará o caminho do homem do saltério, tornar-se-á a sua maneira de manifestar a luta incessante que deverá assumir com inimigos fortes e insidiosos:” o irmão Epafras não cessa de lutar por vocês nas suas orações, para que sejam fortes”, escreveu Paulo aos Colossenses (4, 12). E exorta também os Romanos a “lutar com eles nas orações dirigidas a Deus     “ (15,30).
            Paulo conhece bem este combate, necessário para “conservar a fé” (2Tm 4,7; Fl 4,3).  Sobretudo a evangelização comporta “muitas lutas” (1 Tss2, 2) inevitáveis se você quiser vencer o “espírito do mal” (Ef 6,12).
            Uma “batalha” que não pode ter “armas carnais”, mas sim aquelas que Deus prepara para levar os homens “à obediência a Cristo!” (2 Cor 10, 3-5).
            Então é o “grito” de uma batalha que não conhece o resistir: “vem, vem depressa em meu auxílio!” O grito dos israelitas, cheio de “grande medo”, pela chegada dos carros do Faraó; mas também o de Moisés, lacerado de angústia por aquele mar que impedia a liberdade! (Ex 14, 10.15).
            Inimigos fortes e insidiosos! Vamos encontrá-los desde o início da história da oração, que o saltério nos testemunha.
            O homem é certamente abençoado pelo meditar assíduo das Sagradas Escrituras, mas não pode de imediato recolher o “fruto” (sl 1), por barreiras à participação que gostariam de se intrometer: ímpios que vomitam mentiras, tentando seduzir (sl 5; 7); pessoas que conspiram, povos e reis que se insurgem contra Deus e seu Cristo (sl 2).
            Nossos pensamentos se voltam naturalmente para o “jardim” onde Adão abençoou meditando a palavra de vida que lhe foi dada! Em seguida apareceu o sedutor... (Gn 2, 15; 3,1). E assim no livro de Jó: vemos “Satanás” (o adversário) esgueirar-se entre os anjos e semear confusões e julgamentos (Jó 1).
            “Até quando triunfará o inimigo?” (sl 13). Esta questão é naturalmente ansiosa. De fato: gostaria de fugir, abandonar a luta, não assistir a “violência e contenda, a iniqüidade, trabalho e armadilhas” e também “exploração e manipulação”. O que dizer então, da traição do amigo? (sl 55).
            Inimigos fortes “como leões” (sl 57): “até quando” avançarão contra o homem? (sl 62). “Esgotado de gritar, os olhos se consomem na espera de Deus” (sl 69).
            É o gemido que o homem do saltério derrama o seu testemunho de sua luta contra as “maquinações do inimigo” (2 Cor 2, 11);” até quando” o adversário insultará; continuará a desprezar Deus? (sl 74). “Até quando” se julgará iniquamente? (sl82).
            O “acusador” não dá trégua... maltrata a história da humanidade! (Ap 12, 10).
            Sem dúvida procurando feridas dolorosas: “vê, Senhor a minha miséria? Obras dos meus inimigos”. (sl 9); E suscitando, por outra parte, rancores bem compreensíveis; não só, mas desejos de vingança que facilmente desembocam no ódio. Portanto, justificado o gemido “até quando” que acompanha o caminho do salmista: revela tantas vezes o limite de resistência do justo: “exaustos pelos longos lamentos, os olhos se consomem na dor; envelhecem entre tantos opressores” (sl 6).
            Dramático o sentir-se derrotado, “transformar-se em um rejeitado” e “cair no esquecimento como um morto” (sl 31)
            No entanto, essa mesma experiência será sentida e vivida pelo apóstolo Paulo. De fato escreve aos Coríntios: “Deus reservou o último lugar para nós que somos apóstolos, como se estivéssemos condenados à morte; considerados como a sujeira do mundo”. (1 Cor 4, 9-13)
            Tiago chegará a escrever, condenando os ricos: “vocês condenaram o justo e ele não conseguiu defender-se (5, 1-6). Possível? Só podemos tremer: para o autor do saltério não é lícito “zangar-se”! (sl 37) . Nem pode invejar os malfeitores e os prepotentes (sl 73); nem posso “praguejar ou amaldiçoar” (sl 58; 109; 137); uma ... “linguagem dura”? (Jo 6, 60) . Não. Porque o “justo” deve aprender com a “sabedoria de Deus” ... para amar todos os homens! (Sb 12, 12-19).
            Além disso, o homem do saltério conhece aqueles mandamentos que aprendeu desde o princípio: “Eu hoje te gerei. Pede-me e eu te darei as nações como herança, os confins da terra como propriedade.” (sl 2). Assim, emocionante a promessa e a recompensa além de cada desejo! Porém, mais atraente acreditar na palavra do Evangelho: Paulo proclamará: “tudo é vosso: o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro...” (1 Cor 3, 21-22). Testemunha ele, também, do que Jesus havia revelado e doado na oração da última ceia: “Pai, a glória que deste a mim, eu a darei a eles, Quero que estejam comigo onde eu estiver e contemplem a minha glória, para que o amor com o qual me amaste esteja neles e eu em todos eles” (Jo 17).
            O salmista pode “orar onde quer que esteja, erguendo ao céu as mãos puras sem ira e sem disputa” (1 Tm 2, 1-8).
            Se 70 Salmos foram necessários para fazer explodir da história da oração o “vem depressa em meu auxílio”, mais de dois terços do saltério são necessários para aprender a obedecer aquele comando: “pede a mim! Não faças justiça sozinho” (Rm 12,19).
            O homem do saltério também em meio às adversidades deverá continuar a oração” (sl 141). Antes: deverá orar “incessantemente” (Ef 6,18). “Perseverar e vigiar nela” (Cl 4,2); será o seu “repouso”.
            O tempo de espera e de luta para compreender, finalmente, a preciosidade daquele “último lugar”, de tantas humilhações! Agora sim você “pode abençoar se insultado; ter paciência se perseguido; confortar se caluniado”. E, certamente, com a verdade: “muitas vezes perturbado, mas não esmagado; chocado, mas não em desespero; perseguido, mas não abandonado; ferido, mas não morto” (2 Cor 4, 7-12). Numerosas, portanto, as “infelicidades do justo”, mas de todas foi libertado pelo Senhor! (sl 34).
            Quem é semelhante àquele que finalmente revela: “Eu levanto da poeira o indigente, tiro do lixo o pobre, para fazê-los sentar-se com os príncipes”? (sl 113). O salmista agora pode, com razão... “sentar-se” e ver o “fruto” do seu perseverar: Deus põe a seus pés todos os seus inimigos! (sl 110).
            Pode pedir, invocar incessantemente, perseverar no “levantar os olhos rumo aos montes” (sl 121), o auxílio lhe virá! É certo!
            Deus ama o justo e sempre o gera num “hoje” eterno (sl 2; Jr 31, 3).
            Deus ama Israel não por ser um povo numeroso ou rico ou potente, entre todos; Israel é o menor de todos os povos (Dt 7, 7-8), mas Deus escolheu-o com uma “chamada irrevogável” (Rm 11,29). Por mais que possa pecar (sl 78) e continuam a fazê-lo através de sua história (sl 106; 107), não é abandonado. Antes: quando ouve que ele é inocente e não vai entender o porquê de “ser entregue como ovelha ao matadouro” (sl 44), levantará, no auge da confiança, o seu “clamor”; “Levanta-te, porque dorme, Senhor acorda, desperta, revela a tua potência, levanta-nos (sl 80). Não te cales, não fiques mudo e imóvel” (sl 83).
            Luminosa, mais uma vez, esta página de Paulo: “ Bendito seja Deus que nos consola em todas as nossas tribulações. De fato são abundantes os sofrimentos de Cristo em nós; a tribulação que sofremos na Ásia além da medida de nossas forças, nos fez duvidar também da vida. Nós nos sentíamos como condenados à morte, para aprender a não colocar confiança em nós mesmos, mas no Deus que ressuscita os mortos. Deus que nos libertou... e nos libertará ainda” (2 Cor 1, 1-11).
            Israel ainda pode cair na idolatria e o homem do saltério tropeçar no caminho... “invejando a prosperidade dos malvados” (sl 73); mas todo homem sabe bem que não conheceu toda a riqueza da ajuda que a misericórdia de Deus  preparou para a nossa felicidade; o “pede a mim!” está longe de ser esgotado!
            Não é por acaso que os salmos penitenciais (6; 32; 38; 51; 102; 130; 143), narram todas as nossas inquietudes, abrangendo o saltério inteiro! Exceto para os momentos (... e nos surpreendem) em que claramente surge o louvor! Um clima espiritual, então, que logo se inicia: com o salmo 6 e se prolonga até o salmo 143!
            Por quanto se lamenta ou protesta ou se insiste na busca de seus caminhos e vive do próprio conselho, o homem da oração reconhece o seu próprio pecado, vê a própria miséria (sl 25).
            “Podres e purulentas são as minhas feridas o motivo da minha estupidez (sl 38); do orgulho, ó Deus, salva o teu servo. Cria em mim um coração puro (sl 50), para que seja puro do grande pecado! (sl 19). A ti confesso as minhas culpas: um abismo de mistério! (sl 64). Abençoado o homem, se do ... profundo de sua existência  (sl130), grita a ti e tu perdoas as suas culpas...” (sl 32).
            Eis a grandeza da oração bíblica: deixar-se ajudar por Deus, para levá-los a confiar... para pretender e advertir, a alegria de uma nova criação!
           
            Quem sabe quem gostariamos de invocar para que se apresse em nos ajudar?
            Então, o quanto consideramos grande a necessidade desta ajuda?

            BOM NATAL!
            Com paternal afeto. Don Sérgio

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