MOVIMENTO DA ESPERANÇA
Páscoa 2012
“... PARA QUE EU POSSA CONHECER CRISTO, O PODER DE SUA RESSURREIÇÃO” (Fl 3,10)
Certamente
este desejo de Paulo encontra sua origem na experiência dramática de Damasco
(At 9; 22 e 26); ali pela primeira vez Paulo “conheceu” o Ressuscitado; antes,
“foi por Ele conhecido” (Gl 4,9). De repente: desorientação... confusão... A
súbita luz o cega, transpassa-o a voz...
Cai no chão
Nesse instante experimenta um tormento
por ter vivido um terrível engano!
Aquele brilho o jogou no escuro. E
sem força. Era falso, desde então, o seu zelo por Deus? “Mas um zelo pouco
conhecido” (Rm 10,2)
O Crucificado está longe do escândalo
para Israel; nem os seus seguidores são culpados de heresia!
Da escuridão de sua alma, aflora
repugnância pelo seu passado; por aquele estremecer obsessivo, as ameaças de morte
contra os discípulos do Senhor, provocando seus sofrimentos com um fanatismo
cruel. Mais tarde deverá confessar que perseguia com violência a nova doutrina
e, furioso, havia devastado a Igreja de Deus! (Gl 1,13).
Em
Damasco, agora, deitado no chão!
Perturbada a mente, o coração...
Três dias de angústia, de jejum. A
oração sai... de onde? De uma profundeza inexplorada. Somente um gemido, que
não lhe dá paz: “Eu persegui Deus, o meu Deus! Eu semeei o terror... Como
implorar misericórdia? Como sair do meu inferno, fruto da minha cegueira? É
possível consertar este mar de tristeza? Ainda poderei ter sentido na vida?”
Paulo sente desolação dentro e em
torno dele... Parece-lhe familiar o grito agudo de Caim: “Muito grande a minha
culpa para obter perdão!” (Gn 4,13).
“Adão” – cada homem! – é perdido;
caminha pelas trilhas da ilusão, da amargura. Não é mais disponível para ouvir...
Agora se esconde de Deus; o impacto dramático da sua presença lhe revela a sua
própria nudez, o seu medo (Gn 3, 8.10). A vontade de Deus que, de repente o
atinge, causa um protesto doloroso: “ Quem é este homem para fazeres tanto caso
dele, o escutares a cada manhã e a cada
instante o colocas à prova? Porque não perdoas o meu pecado e não afastas a minha iniqüidade?
Logo eu me deitarei no pó e não existirei mais” (Jó 7, 17-21).
Uma vontade que não deixa escapar;
parece olhar para ele... para matá-lo! Se revolta, resiste...
Adão
resiste
Mas pode ser boa aquela vontade que faz
Abraão querer matar o próprio filho? (... no entanto, como é grande a descendência
dessa criança!) (Gn 22).
Ou aniquilar Isaias com uma visão no
Templo, súbita e brilhante? (... mas não podemos deixar de anunciar a santidade
e... havendo tanta nostalgia! De beleza (Is 6)
Impedir Jeremias da alegria de formar uma
família e mandá-lo pregar para as pessoas que não o escutarão? (... mas será a
única maneira de salvar a vida de Jeremias! (Jr 16,2 e 40, 1-5).
A vontade de Deus vai “perturbar” a vida
de um velho pastor solitário, agora mais habituado ao silêncio, incapaz mesmo
de falar: Moisés. Ele deverá libertar um povo inteiro da opressão do Faraó!
Também o velho e futuro líder.... resiste!
(Ex 3, 6-11).
Que seria de Moisés, de Israel... de
Paulo, se Deus não passasse em suas vidas? Se não houvesse gritado: “onde está
você?” (Gn 3,9). Deixar-te olhar! Deixar-te amar!...
O Crucificado que Paulo perseguia está
vivo! Agora Ele o manda ficar de pé, entrar na cidade: lá lhe será dito o que deve
fazer. Um novo caminho... Paulo torna-se “servo de Jesus Cristo, apóstolo por
vocação, escolhido para anunciar o evangelho” (Rm 1,1).
“Um abismo é o homem e seu coração é um
abismo” (Sl 64,7). Também o coração de Paulo, um abismo: não podemos sondar os sentimentos
mais íntimos; mas ao menos tentar imaginar o trauma psicológico que o atingiu,
imediatamente. Por toda a sua vida, como um fiel zeloso, procurou a glória de
seu Deus; o Senhor do Sinai; o “três vezes Santo” revelado por Isaias. Absurdo
querer descobrir o “rosto” do “Senhor dos exércitos”, como queria Moisés (Ex
33, 18-20); não é possível fazer um “ídolo ou qualquer imagem”.
Agora a face de um condenado à morte, “não
um homem, mas verme; infâmia dos homens e desprezo do povo” (Sl 22,7), é
adorado como um Deus!... Escândalo para um doutor da Lei como Paulo; blasfêmia
terrível!
Aquele tormento para um homem assim
determinado; um crente sincero... Angústia, ânsia... Mais que “acender-se a ira
ou jogar as tábuas da Lei e quebrá-las” como havia feito Moisés pelo pecado do
bezerro de ouro (Ex 32, 19). Paulo “ruge ameaças de morte e quer levar presos
para a cadeia” os seguidores desta perversa doutrina!
Em seguida o relâmpago, a voz: “Eu sou
Jesus a quem tu persegues!”
E
Damasco torna-se a páscoa de Paulo...
“Um abismo chama outro
abismo” (Sl 42,8): o rosto desprezível e vergonhoso de um condenado, inchado e
desfigurado, diante de quem os homens escondem o horror, agora brilhante, vivo,
com “olhos flamejantes como fogo, onipotente! A voz como o fragor de muitas
águas!” (Ap 1, 14-15).
Certamente os doze apóstolos continuam sendo
as testemunhas privilegiadas de toda a obra de Jesus: vida, ensinamentos,
morte, ressurreição... Paulo a vista deles, é como “um aborto”. O menor dos
apóstolos, não é digno de ser assim chamado. (1 Cor 15,3-11). Mas não pode
negar que em Damasco, também ele viu Jesus (1 Cor 9,1).
Não só – e é uma emoção! – ele
tem o “pensamento” (1 Cor 2, 16).
E a “graça” do Ressuscitado não será em vão! Paulo “acima de tudo,
achará difícil”; por gratidão, por excesso de reconhecimento por se ver
alcançado pela misericórdia do Ressuscitado. Paulo, em uma época violenta, foi blasfemador,
perseguidor. É quando confessa aos discípulos (1 Tm 1, 12-17): “agia sem saber,
longe da fé, mas Jesus quis demonstrar toda a sua generosidade primeiramente a
mim, como exemplo para os que depois iriam acreditar nele.”
O’ profundidade da
sabedoria de Deus! Quantos são impenetráveis os seus juízos!”(Rm 11,33).
Misterioso o caminho da “graça”; realmente a Paulo será dada “uma medida
recalcada, sacudida e transbordante será paga na alma” (Lc 6, 38). Jesus viverá nele (Gl 2, 20) e... “graça
sobre graça” (Jo 1, 16) o guiará.
“Onde
o pecado abundou (no corpo do servo sofredor de Deus...), superabundou a graça (no corpo
glorificado do Filho Unigênito de Deus!”) (Rm 5, 20).
Paulo é fascinado – e... conquistado –
pelo evento-páscoa: ele o viveu em sua carne. Mesmo recalcitrando, teve que
aceitar que também por ele – ímpio! – Cristo desejou morrer no “tempo
estabelecido” (Rm 5, 6-11) e ressuscitando, desejou encontrá-lo, oferecendo-lhe
o perdão e propondo-lhe... a missão!
Agora a história da humanidade tem que
lidar com a realidade deste Ressuscitado! Mantendo-se misteriosamente inserido
no nosso dia-a-dia, Jesus introduziu no mundo, espaços de vida acima e além do
quanto podemos pensar e querer. Este Jesus não morre mais! Fez a morte
inofensiva; com ele parece ter perdido a cor da tragédia.
Proclama decididamente: “Eu sou a ressurreição!” (Jo 11, 25) e
lança no coração do mundo o evento de sua páscoa, sinal de contradição.
A sabedoria humana não sabe e não pode
lidar com este acontecimento que põe em crise: Deus realmente pode recompensar
com a ressurreição, o homem Jesus que decide que quer expiar o mal do mundo,
aceitando morrer pelos pecadores com uma morte absurda? Não é só loucura? E não
pode parecer um absurdo que um dos seus discípulos confessou de ter subido a um
terceiro céu, seqüestrado pelo mestre morto que estava vivo naquele paraíso e
ouviu palavras inefáveis? (2 Cor 12, 1-6).
De fato, Paulo penetra no mistério de
um conhecimento mais que sublime: compreende que é “a largura, o comprimento, a
altura e a profundidade do amor de Cristo...” (Ef 3, 14-19).
O mundo, com a sua sabedoria, desprezou
o conhecimento de Deus (Rm 1, 28). Pensa agora, por ignorância e vaidade, ter
matado o “autor da vida” (At 3,15). Mergulhado nas trevas do desespero o mundo
dos homens se torna um escravo da morte; neste inferno, apenas a compaixão de
Cristo pode entrar, iluminando com a sua ressurreição a história da humanidade.
Guiado pelo Espírito que perscruta as
profundezas de Deus (2 Cor 2, 10), Paulo agora entende que onde há trevas, dores,
morte, lhe será melhor: certamente se fará presente a misericórdia de Deus. É
ali, nas profundezas da tragédia humana, que deve esperar a erupção da vida: a
“páscoa”. Ele deve esperar... Para a páscoa!
De fato, Deus sempre afirmará a sua
palavra eterna: “tenho planos de paz, não de desventuras” (Jr 29, 10-12); “não
tenho nenhum prazer na morte de alguém” (Ez 18, 32); “eu vi a miséria do homem;
ouvi o seu grito; conheço o seu sofrimento. Estou sempre perto dele para
libertá-lo e fazê-lo sair...” (Ex 3, 7-12). Portanto: “cada lágrima será
enxugada e será rasgado cada véu desonrado que envolve de tristeza o rosto das
pessoas...”
“...
agora é eliminada a morte!” (Is 25)
De tal evento de vida, a páscoa de
Jesus, os apóstolos são, finalmente, alegres servidores. Deverão levá-la até os
confins da terra. Para essa tarefa gozam de um lugar privilegiado: o último!
Contemplam o mistério
de Deus, a sua vontade de revelar-se... escondendo-se! Por isso, João
testemunha: o Verbo criador se faz visível, saindo das profundezas da vida
divina e assumindo a vida de... um homem comum (Jo 1, 1-18): um operário em um
vilarejo sem história, de uma pequena nação, faixa de terra espremida entre
grandes povos, dominada pelos estrangeiros. Há 30 anos preso por suas idéias e
condenado inocente a uma morte cruel...
Deus verdadeiramente viveu naquele
canto de mundo? E escolheu descer em uma história obscura e banal? Desejando,
além disso, caminhar e levar uma vida comum com um pequeno grupo de humildes
pescadores? Seguramente um lugar, o seu, longe do olhar do mundo... que conta:
amante do prestígio, do poder, da riqueza!
Um lugar zelosamente conservado pelos
discípulos do Verbo feito homem, quando ele retomou a sua glória e não mais
será visível na história do mundo. Continuando a fazer-se presente para os
seus, assistindo-os e encorajando-os (At 18, 9-11).
De fato, os apóstolos são conscientes
de ter um “tesouro em vasos de barro” (2 Cor 4, 7-12); ricos pela graça que
incessantemente os conforta, porém fracos e inadequados para a obra ao qual
foram chamados: testemunharem ao mundo a “páscoa”.
Escreve Paulo: “Eu creio que Deus
reservou o último lugar para nós apóstolos, como se estivéssemos condenados à
morte, espetáculo para os anjos e para os homens... Nós somos loucos,
desprezados, lixo do mundo!” (1 Cor 4, 9-13). Levar, de fato, em seu corpo a
morte de Jesus, para que também na vida de Jesus se manifeste a salvação. Em
resumo, completar a obra de Jesus. (Cl 1, 24).
Na fraqueza do homem, faz-se
presente a força de Deus! (2 Cor 12, 9).
Desta fraqueza Paulo é simplesmente...
enamorado. É a fraqueza de Cristo, o seu fazer-se obediente até a morte (Fl
2,8) para que o “perfume” de seu sacrifício possa difundir no mundo o
conhecimento de Deus, de sua “passagem” entre nós. (2 Cor 2, 14-17).
Uma leitura superficial pode parecer
que Paulo maltrate a natureza humana; que pretende reduzir a nada... “porque
pensa ser qualquer coisa” (Gl 5,3). Ou porque te iludes, acreditando-se sábio?
(1 Cor 3,18). O que você possui que não tenha recebido?
(1 Cor 4,7). E por que julgas e
condenas? Tu não fazes a mesmíssima coisa! (Rm 2, 1-3) E sugere: és um escravo?
Os lucros de tua condição! (1 Cor 7,21). Não és casado? Fica como eu. (1 Cor
7,8). Fica satisfeito se tens algo para comer e algo para cobrir-te!
(1 Tm 6, 7-8).
Além da procura de sucesso, estima,
satisfação, da segurança em tudo...
Não basta: mobiliza mesmo o Espírito
Santo porque com a sua ajuda os fiéis “mortificam”, isto é, “matam!” aquela
parte de si que ainda pertence à terra (Cl 8, 12-17).
Paulo não exagera: na luz da páscoa de
Cristo vê “passar a cena deste mundo” (1 Cor 7,31) “Pertencemos a Cristo –
revela – não somos mais dessa terra!” (1 Cor 3, 21 e 6,19).
O tempo é curto: por que não fazer
direto o que é digno e possam permanecer junto ao Senhor sem distração? (1Cor
7, 29-35). Por que não se abrir para o conhecimento verdadeiro e finalmente
desfrutar o perfume da graça de Deus agora difundido no mundo? Talvez não
queira ser, a convite de Paulo, o eco distante da palavra de Jesus,
o muito agitar-se de Marta: “uma só coisa é necessária” (Lc 10,42).
Verdade que a nossa natureza é lenta,
preguiçosa, mal colocada; em vez disso foi criada e redimida por um caminho de
plenitude. Não pode agora desfrutar de pausas, sem mais perdas; nem toleram
reclamações ou fraquezas. Deus se humilhou até a morte para entrar em nossa
morte. Mais abaixo de lá ele não podia!...
Ao contrário, com a sua ressurreição o
nosso “subir com ele” não tem limites!
Paulo é “alcançado” (Fl 3, 13-14) por
esta ... graça infinita!
É por isso que “tudo parece perdido” (Fl
3,8); tem os “olhos da mente iluminados” (Ef 1, 17-18): penetra nas realidades
invisíveis e eternas; (2 Cor 4, 18) “inescrutável” (Ef 3,8), ainda a ser
percorrido.
Como é grande o fascínio que se sente atraindo
aqueles que se deixam atrair?
E Paulo foi tão longe, na verdade, quanto
se deixa “seduzir” (Jr 20,7), para nunca
confiar em qualquer realidade visível?
“Posso falar a língua dos anjos – explica
– ou conhecer todos os mistérios e toda a ciência ou possuir todos os bens do
mundo...” (1 Cor 13, 1-3); se a vida e o amor de Cristo não estão comigo e em mim...
para mim, eu não sou nada!
Então anseia por conhecimento, uma visão mais profunda de quem o amava; procurou
com insistência quem havia se oferecido, até a morte, por ele; que teve piedade
de sua vida, “transferindo-o para o seu reino! (Cl 1,13).
Mas como é grande este reino sem fim,
que de geração em geração, se dilata?
Como um observador atento poderia
descrever os limites?
Passaram milênios e incontáveis multidões de
confessores e virgens e doutores e mártires e pastores testemunharam o amor de
Cristo; que os “atraiu” para si e depois os ensinou (Jo 6, 44-45) e
“justificados” e... “glorificados” (Rm 8, 28-30).
A compaixão de Cristo não para.
Inesgotável... Com preocupação e firmeza exorta os seus (2 Cor 5, 14). Continua
a criar mundos, as almas; a derramar rios de misericórdia sobre toda a
humanidade.
Quem pode conhecer os segredos da
graça, que fala, inspira, avisa a consciência de cada homem?
E como ousa conhecer a regra do
Ressuscitado, sobre as criaturas angelicais? ( 1 Pd 3,22)
Ou os seus poderes para “julgar”, quando
gritará no final da história, uma extensão ilimitada de ossos secos (Ez 37), para
sair dos túmulos? (Jo 11, 43).
Impossível! No entanto, precisamente
Paulo deseja isto: penetrar no mistério da morte e ressurreição de Jesus; viver
na sua páscoa. Era necessário que o Senhor sofresse; ele o havia revelado (Mt
16,21). Paulo compreende que também para os discípulos é necessário que
carreguem este sofrimento: para que tenham vida.
“Está no lugar, de fato, o mistério da
impiedade” (2 Tess 2, 1-12). O “príncipe do mundo” odeia a vida e deseja a
morte de cada ser, do mundo, de Deus... (Jo 14,30 e 15,18-25). Só o sofrimento
de Jesus, da sua “comunidade”, é o prelúdio para a vitória final sobre o mal...
De fato, ele pode “abrir a sua mão e saciar todo ser vivente” (Sl 104, 28).
Paulo tem sede deste “poder
inescrutável e sabedoria de Cristo” (1 Cor 1,24), que vai descobrindo sempre
mais. Parece banalizar todos ou pelos menos considerar nada como importante...
Mas é somente ânsia daquele que não vai perder todas as riquezas da verdade e
da vida que está vivendo a serviço do Evangelho.
É a “pérola” (Mt 13,46) que encontrou e quer
possuir renunciando ao resto. E foge com ela em direção ao objetivo que é lá no
alto... (Cl 3, 1-2).
A alma do apóstolo vibra ao pensamento
de que no coração de Cristo estão contidos “todos os tesouros da sabedoria e da
ciência” (Cl 2,3). Ou agradável torpor, quanto há para aprender, para conhecer!
Quão longe você pode lançar um olhar?
E como explorar naquele corpo glorioso
toda “a plenitude da divindade”? (Cl 2,9).
Paulo sentiu que estava introduzido no
mistério do Ressuscitado: só nele
vivemos todos.
Portanto, em antecipação
da Páscoa, não pode... gemer e sofrer!
Sim, há ainda gemidos e tribulação! Mas
também a tribulação é causa de... consolação. É quando revela aos Corintíos: “Nós
não queremos que os irmãos ignorem como a tribulação que aconteceu conosco na
Ásia, nos fez sofrer muito, além de nossas forças, a ponto de perdermos a
esperança de sobreviver. Sim, nós nos sentíamos como condenados à morte para
aprender que a nossa confiança já não podia estar amparada em nós, mas em Deus
que ressuscitou dos mortos. E que nos libertou dessa morte e daquela morte nos
libertará também” (2 Cor 1,1-10).
Israel
geme!
Também por ele é
necessário esperar que a Páscoa do Senhor se cumpra. Que está aberto à fé e as
pessoas a encontrar a paz. A remissão de Israel será uma “ressurreição dos
mortos” (Rm 11, 11-15).
A Igreja geme e sofre!
“De fato: gememos, embora possuindo os
primeiros frutos do Espírito esperando a adoção de filhos, a redenção de nosso
corpo” (Rm 8, 1827).
Tudo geme: a criação, as pessoas, a
Igreja, mas não com gemidos mortais; tudo está esperando por um nascimento que
restitui a plenitude da vida...
Agora é o Ressuscitado que é invocado, em
nossa peregrinação. Paulo convida os fiéis a nutrir-se da “incessante oração”
(1 Tss 5,17), a desejar: “em nome de Jesus, atingir força no vigor de seu
poder. Senhor de todos e rico para com todos, não deixa decepcionados” (Rm
10,9-13 e Ef 6, 10-18).
Estamos imersos na vida do Ressuscitado.
Podemos nos apoiar confiantes no poder vivificante de Jesus. Paulo afirma: “tudo
posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).
Caríssimas irmãs e irmãos, eu tentei
coletar a granel, algumas migalhas da experiência de Paulo, dos apóstolos sobre
a Páscoa de Jesus: a sua morte e ressurreição. Acontecimento único e o mais
dramático da história do mundo. Também tu, irmã e irmão, mais cedo ou mais
tarde vais te encontrar em um primeiro dia da semana diante do sepulcro de
Jesus. Que para ti estará vazio e deverás interrogar-te seriamente: onde puseste o seu corpo?
Deixo-te uma última
palavra de Paulo, um desafio para todos os infernos da história, também o teu!
Um
versículo luminoso que Paulo levanta sobre todas as pessoas, memorial de vida e
de esperança.
Nós somos, de fato, a
geração adúltera e perversa; os ladrões ou os traidores ou os assassinos mais
abjetos; propriedade de uma “legião” de demônios; ou sob o governo mais cruel e
mais duradouro do Faraó, todavia:
“ninguém poderá nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus, Senhor de
todos e nosso!” (Rm 8,38-39)
Roma, 9 de dezembro de 1981 – 9 de dezembro de 2011
“Cantar sem fim as graças do Senhor,
Celebrar o Senhor porque é bom,
Porque eterno é o seu amor por nós”.
“Apenas é duradouro o que é feito por Deus” (Beata Rosa Gattorno)
Caríssimos irmãos e irmãs,
Quero cantar junto com vocês as graças que o Senhor nos concedeu, dando vida ao Movimento da Esperança em 9 de dezembro de 1981, por ocasião da celebração final da exumação de Madre Rosa. Neste ano celebraremos os 30 anos de vida: 9 de dezembro de 1981- 9 de dezembro de 2011.
Durante todo esse tempo o Salmo citado sempre me acompanhou. Foi o Salmo Responsorial da Celebração Eucarística daquele evento, ao qual participei inesperadamente e em absoluta aridez espiritual, graças ao convite de Soror Ana Antonietta d’Agostino, então Superiora do Colégio de Potenza, onde eu trabalhava como educadora. Os compromissos que o Senhor, em sua bondade, determina para cada um de nós, mas sempre para um bem maior, ultrapassa todas as nossas perspectivas e todos os nossos programas.
O Senhor não faz a experiência quando tudo é planejado, quando te sentes em pleno vigor, quando tiveres resolvido cada coisa, mas somente quando o Pai deseja. É Ele que escolhe o lugar, o tempo, a pessoa... A sua pedagogia é totalmente diferente do nosso modo de ver, de sentir, de realizar... A Obra de Deus não nasceu na “mesa”, mas em silêncio e sem qualquer programa de humanos... Esta foi também a origem do Movimento da Esperança.
Nestes trinta anos experimentei concretamente que Deus, de certa maneira, é “ciumento” de suas obras - “como Deus é mais ciumento de seu trabalho” (Madre Rosa) –e é por isso que Ele não escolhe os “capazes”, nem os “poderosos”, nem os “sábios” segundo a carne, como recorda São Paulo, mas escolhe “ as coisas loucas do mundo... o fraco... o vil e desprezado... escolheu o que é nada... para que ninguém possa gloriar-se diante de Deus” (1 Cor 1, 26-28).
“O Caro Jesus está satisfeito com a sua Obra, irá proporcionar grandes coisas; serve-se de instrumentos, os mais miseráveis que somos e deste asno que nada de bom faz, só estragam e nada mais”.
“Sim, Meu Amor, só (e sei que é) o que é feito por Ti é duradouro e não sujeito à corrupção. Virão inimigos, combaterão, mas o que vão fazer? Outros levarão tua obra a uma maior consolidação e nada mais... A construção bem batida é mais sólida”.
Todo artista é ciumento de sua obra.
As experiências foram tantas que é difícil resumi-las nesta carta circular. Porém posso testemunhar que a graça do Senhor operou cura de corações, chamou alguns para a vida religiosa, iluminou os jovens sobre a santidade do Sacramento do Matrimônio, reconstruindo famílias, deu à luz à filhos abertos à vida e educando-os à fé; tirou da morte tantos irmãos e a tantos deu um novo sentido para a vida.
Minha gratidão ao Senhor é para as queridas Irmãs Filhas de Sant’Ana, para Maria Raimondi e para Don Sérgio, que, na linha de frente, acolheram e ajudaram a fazer crescer esta “semente”.
Aqui está uma pequenina história:
> Madre Elda e seu Conselho (uma das Conselheiras era Madre Maria Luiza), que teve a intuição de exumar Madre Rosa nos 150º anos do seu nascimento.
> Soror Ana Antonietta d’Agostino que me resolveu convidar a participar da celebração final do evento e que, ao meu retorno a Potenza, acolhe com as mãos cheias a “semente” da vida, impelindo a minha resistência a dar os primeiros passos e participou da primeira reunião em 16 de maio de 1982, na casa de Maria Raimondi em Foggia (pois a Superiora Giulietta nos disse que não era possível nos encontrarmos em “Maria Grazia Barone”, onde era a comunidade, por que haveria um encontro de religiosos a nível diocesano). Éramos somente cinco.
> A Mestra Soror Ana Teresa Portura a quem confiei imediatamente a minha experiência depois da celebração e que me encorajou muito.
> Soror Ana Letizia Rosa, naquele tempo Provincial de Napoli, que me recebeu muito bem, oferecendo todo o seu apoio e participando do nosso segundo encontro em 5 de setembro de 1982, ainda em Foggia (que naquele tempo fazia parte de sua província religiosa), a “Vila O Rei”, onde ficava outra comunidade das Filhas de Sant’Ana. Pensávamos de ser mais em número e em vez... encontramos apenas três: Maria, eu e Soror Ana Letizia.
> Soror Ana Ângela Florio com o seu “aperto de mão” naquela celebração... e depois, tornou-se Assistente, lhe foi dado por Madre Virgínia a tarefa de acompanhar-nos. Isto ela fez por doze anos, dando a sua forte e alegre disponibilidade em tudo... Poderia também deixar-nos saborear a pesquisa sobre Madre Rosa, proporcionando-nos conhecer mais a fundo a sua vida e o seu pensamento espiritual, mesmo quando nós não estávamos na posse de todos os documentos que temos hoje, agradecemos ao Senhor.
> Madre Virgínia a quem comuniquei o evento e, sempre atenta aos sinais do Espírito, intuiu rapidamente que era um projeto do Senhor. Era, então, a Provincial de Piacenza. Encontramos-nos no mês de março de 1982, por ocasião da peregrinação ao túmulo do P Tornatore, que acabara de ser trasladado para a Casa Madre. Então tivemos a oportunidade de falar de perto. Me disse que havia tomado conhecimento da notícia muito bem e encorajou-me muito e tornou-se plenamente disponível em compreender os sinais da vontade do Senhor sobre tal realidade, que apenas germinava. Depois da sua eleição como Madre Geral, por 18 anos, sempre impulsionou o nosso caminhar, dando-nos com firmeza todo o seu apoio materno.
> Maria Raimondi, que foi um pouco o meu “estímulo”. Não nos conhecíamos, apesar de ser quase da mesma cidade. Nunca nos teríamos escolhido para compartilhar uma experiência de vida: pela idade (eu tinha trinta anos...), pelo modo de pensar, por personalidades diferentes... E isso me tem ensinado que o Senhor não chama os “semelhantes”, por que: "Se amas aqueles que te amam que mérito tens? Não fazem isso também os pagãos?” Apesar de tudo nós compartilhamos, sofremos, nos alegramos juntas... Posso dizer que com ela eu experimentei a verdadeira amizade, que não é baseada em simpatia recíproca, sobre pensamentos em uníssono, em concordar... Uma confirmação de modo muito especial foi o dia de seu retorno à casa do Pai: à tarde de 9 de dezembro de 2008, quando lhe estava telefonando, ao mesmo tempo sua irmã Angélica me chamou ao telefone para dar-me a notícia...
> Don Sérgio, que em todos estes anos nos fez crescer no conhecimento da Palavra de Deus, fazendo-nos navegar nela e iluminando-nos sempre mais sobre a História da Salvação, história de “pobres”, mas, sobretudo, história do POVO, do SERVO. Num primeiro encontro, Maria Raimondi disse que conhecia um sacerdote – Don Sérgio – que poderia ajudar-nos e que já vivera a nossa espiritualidade. Precisamente, quando em 1982 foi perguntado sobre sua disponibilidade, logo aceitou, acreditando que estava começando um trabalho de Deus. E, de fato, desde o início sempre serviu na mais absoluta gratuidade e dedicação paterna. Também neste ano, em que se completa o 25°ano do primeiro curso de exercícios espirituais que se realizam desde 1986, o Senhor deu-lhe a capacidade e a força, como por vários anos, de conduzir quatro cursos de exercícios viajando de Norte a Sul no verão. Porém, dada a sua saúde e a idade que vai avançando, a Divina Providência neste ano, como ele sofre muitíssimo com o calor, presenteou-o com uma temperatura amena: de 25°...
Esta é a origem do Movimento da Esperança!
No livro “O Dom de Deus a Rosa Gattorno”, na página 20 se lê:
“A harmonia entre o que o carismático experimenta na solidão com o seu Deus lhe manifesta através de outras pessoas enviadas para uma missão em favor do seu próprio “Dom”, determina a docilidade para concretizar o “Dom” na originalidade querida pela Providência”.
Ressalto que a “pessoa carismática”, é sempre e apenas Madre Rosa para todos nós da Família de Sant’Ana, porque o “carisma” é um “dom” que ela recebeu diretamente de Deus e que depois de tantos anos, a Providência Divina, desejou transmitir também para todos nós, em diferentes expressões e que o Espírito Santo vislumbrou no ano de 1872.
Escreve em sua Memória:
“Na distância eu vejo muitas coisas boas para o nosso Instituto. Uma luz me deixa ver o grande panorama da ordem no futuro; posso dizer que era tão bonita, e se entrelaçava , era a ordem divina, que eu fiquei em êxtase e gozava, ao mesmo tempo via nele numerosos sofrimentos. Aquela visão em nada me espantou”.
Convido todos a “celebrar o Senhor... e a cantar sem fim a sua graça...” por estes 30 anos, fazendo memória de todas as intervenções feitas por Deus em nossa própria história pessoal, de grupo e da Família Carismática.
Por tudo o que foi relatado não podemos deixar de celebrar este evento no lugar particularmente querido a todos nós e onde a semente foi lançada.
Eu então marquei um Encontro Celebrativo com as Equipes Territoriais da Itália, em Via Merulana, de 9 a 11 de dezembro, com a esperança de contar com a presença, ao menos no dia 9, das Irmãs nominadas nessa crônica-história, Madre Maria Luiza e Assistente, a Provincial Silvia. Na oração nos sentiremos em comunhão com todos vocês, irmãos e irmãs espalhados pelo mundo e que não podem realmente estar presentes.
Parabéns afetuosos aos irmãos e irmãs de Filottrano que, dia 14 de outubro, celebrarão os 25° ano de caminho no Movimento: por intercessão de Madre Rosa, porque continuam mantendo vivo o carisma naquela terra, já que a comunidade das caríssimas irmãs Filhas de Sant’Ana foi fechada e são um sinal da misericórdia do Senhor no meio do povo.
No dia 13 de outubro partirei para a cara terra do Brasil e, se o Senhor o desejar, meu retorno para a Itália está previsto para 22 de novembro. Peço-vos que me acompanhem com a oração, para que possa ser um tempo de graças por tudo aquilo que o Pai, em sua divina Providência, quer realizar.
Um alegre parabéns os irmãos e irmãs do Movimento do nordeste do Brasil, que encontrarei primeiro, pelos 20 anos de Encontro Territorial, que celebraremos em Carpina de 21 a 23 de outubro: que este possa ser um momento de reavivamento da missão como Movimento, para que tantas famílias, tantos jovens, tantas outras pessoas possam ser alcançados pelo anúncio do “Bem Amado”, realizando assim, também hoje, o grande desejo de Madre Rosa de querer correr em qualquer lugar, para gritar bem forte a importância de conhecer o Senhor.
Por motivo de minha viagem vos envio antecipadamente a Celebração do Tempo do Advento. O tema da reflexão que este ano Don Sérgio lhes oferece nos ajuda a entrar mais profundamente no “segredo”
da “oração dos pobres”: Os Salmos (cfr D.B. pag 111), que devem tornar-se sempre mais a nossa oração privilegiada, como fidelidade ao “carisma que Madre Rosa recebeu, viveu e transmitiu e em comunhão com toda a Igreja.
Ler no Documento de Base o n° 21, página 139:
“Animados pela esperança de salvação, os Salmos são luz e conforto durante os longos séculos que preparam a vinda de Cristo e constituem a oração doméstica e oficial de Israel, no seio da qual se encontra Ana, a Santa Mãe de Maria, que, em comunhão com o seu povo, na humilde oração, confiante e escondida, esperava com lágrimas e suspiros
O “desejado das gentes”
Novo rebento da “ raiz de Jessé”
“... tinha em mim como o cumprimento de todas as justiças, e toda a santidade da lei antiga; descansou em mim os gemidos, os suspiros, as lágrimas e as orações de todos os Justos do Antigo Testamento, porque para mim, como raiz fecunda de Jessé, germinaram
a minha filha, Maria Imaculada e
Jesus Cristo seu filho e filho de Deus,
fonte da nova lei do amor”
(Regra de 1869, 1.3)
Comunico-vos que os Exercícios de 2012 serão em Roma no período de 27 de julho a 01 de agosto.
Asseguro-vos a minha lembrança na oração. Peço ao Senhor, por intercessão de Sant’Ana, Maria e Madre Rosa que possa reacender em nós o desejo do anúncio: conscientes da nossa doença profunda, mas de haver encontrado o médico certo e começado a sua terapia. A esperança é que outros tantos “doentes” possam receber o anúncio para serem eles também acolhidos e curados...
Boa missão e bom caminho!!!
Abraço-vos sempre com grande afeto
Rita