"Também vós leigos podeis viver a espiritualidade das Filhas de Sant'Ana; ser os cem braços e chegar lá onde as Filhas não podem chegar" Intuição de Rita de Maggio - 09 de dezembro de 1981


domingo, 7 de dezembro de 2014

ADVENTO - Dom Sérgio

MOVIMENTO DA ESPERANÇA
ADVENTO  - 2014

“SENHOR ... EU SEI QUE TU ÉS!”...
... O filho de Maria (Lc 1, 30-31) e de José (Mt 1, 18-21). Eles, graças à sugestão divina, te chamaram Jesus. Estavam próximos a realizar seus sonhos de amor, quando Maria, inesperadamente, em obediência ao anjo, concebeu o teu corpo, pela vontade de Deus. José, apenas por expressa vontade divina, receberá Maria como esposa, pois havia decidido ir embora em segredo; e como filho, tu Jesus.
Mas não é segredo aquilo que João, o discípulo amado, revela sobre ti... estavas “no seio de Deus!” (Jo 1, 14-18). Não é suficiente; ainda escreve aos seus fiéis: “nós, os apóstolos, escutamos, vimos, contemplamos, tocamos na PALAVRA DA VIDA (1Jo 1, 1-4), porque a “VIDA” se fez visível”; a vida eterna, isto é, a vida luminosa, inacessível, sempre escondida nas profundezas de Deus... Agora se manifestava e os apóstolos viram quando Jesus, criado pela Palavra do Pai, tomou a semelhança de homem. Aconteceu que “o Verbo se fez carne” ... homem!
Jesus, que mistério insondável o teu corpo!
A Palavra divina não queria que qualquer homem participasse da tua formação. Não só isso, também o colo que devia acolher-te; a Palavra, com cuidado, criava uma mãe em quem não houvesse qualquer sombra de pecado: uma mulher inocente! Cuidadosa em obedecer aos segredos propostos pelo Espírito. Nela nenhum desejo ou pensamento desordenado... Nem mesmo um suspiro que estivesse longe da vontade de Deus ou indiferente a esta. No seu íntimo não poderia guardar ânsia ou temor... Enfim, nada que não gozasse das delícias divinas.
Que milagre o teu corpo bendito! Saia das mãos do Pai e do útero da mãe, realmente como ... novo Adão!
Em seguida nos dois corpos, as obras-primas do Verbo criador, serão revelados os segredos da vida (Lc 1, 35). Unidos para sempre, mãe e filho, o mais sábio dos “mistérios” divinos: A Encarnação.
Jesus, teu nascimento foi afastado dos ruídos do mundo: nasceste no segredo de uma gruta. Não havia nenhum outro lugar para dois jovens peregrinos que vão até Belém para o recenseamento; é tanta confusão... Como sempre nestes casos, os pobres não tem recomendação; devem encontrar um último lugar e adaptar-se!
Mas fostes acolhido pelos pastores e alguns estrangeiros vieram de longe, guiados por uma misteriosa estrela. Aos pastores, pessoas do campo, de pouco saber, iletrados, habituados a viver com os animais, tu envias... os anjos! Pela sua linguagem doce e sublime, os pastores se reconhecem adoradores improvisados, capazes de se envolver na tua glória! Portanto, acolhedores e agradecidos pelo mistério anunciado...  Aos “Magos”, habituados a olhar o céu, tentando descobrir na imensidão qual o sentido de tal grandeza, tu fazes brilhar, com luz imprevista e bondosa, a alegria de um mistério muito diferente: tu, bebê recém-nascido, “envolto em faixas, deitado em uma manjedoura” (Lc 2, 8-12 e Mt 2, 1-5). 
Como todos os nascidos em Israel, vais ser circuncidado no oitavo dia (Ls 2, 21) e teus pais oferecem um sacrifício, segundo a Lei, o montante que pagavam os pobres! Em Jerusalém, Simeão te aguarda. O Espírito Santo lho havia preanunciado a tua vinda: um consolo muito desejado!...  Será possível que somente ele percebeu a voz do ... vento divino? (Jo 3, 8) Simeão revela-te como uma promessa de luz para os gentios, para aqueles magos em particular, que retornaram aos seus países falando de ti: divulgando a “grande alegria”. Mas serias também “sinal de contradição”, de ruína e de ressurreição... Porém devias ser, sobretudo, “salvação preparada diante de todos os povos!” (Lc 2, 25-32).
De qualquer maneira, quando as profundezas escuras do céu e da escuridão sombria cobrindo a terra, graças a tua presença, se abrem em sinais luminosos de luz. Tu Jesus, és o único homem que tem livre acesso às regiões da vida; aquele que possui as origens. Desde o princípio conheces os segredos! Torna-te para nós o “autor da vida”. Ainda: te deixas mergulhar em um vilarejo de modo nenhum interessante; porém, nos concedes um episódio da tua juventude: aos 12 anos, por ocasião da festa da Páscoa, te entretiveste no templo de Jerusalém, escutando e interrogando os doutores da Lei. Tua humanidade já é “plena de graça e de verdade” (Jo 1, 14) e atenta às “ocupações de teu Pai!”. Oh! doutores! Se soubessem quanta riqueza havia naquele corpo de jovem, teriam tentado segurá-lo, contê-lo, admirar-lhe a inteligência!
Que angústia sentiu Maria, pensando ter te perdido!

Que perguntas fizeste? Poderias realmente precisar ou desejar conhecer as respostas daqueles doutores? Não eras tu “a luz verdadeira que ilumina cada homem?” (Jo 1, 9). Somos nós, portanto, que temos a necessidade de fazer perguntas, incessantemente... E ter luz para dispersar tanta ignorância. Mas talvez, como disseste a João Batista: “Por enquanto deixe como está, porque devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3, 15), devemos aceitar reconhecer simplesmente um menino inteligente, que quer apenas se tornar um filho fiel de Israel! E mais, envolvê-lo num contínuo esquecimento. Não obstante esconderes-te, as tuas respostas manifestavam tanta sabedoria, que despertaram grande espanto em teus ouvintes. (Lc 2, 41-50).
Mais tarde João escreverá que “o mundo inteiro não bastaria para conter os livros necessários para escrever as muitas outras coisas que ele realizou” (Jo 21- 25). Que tristeza, pois tanta sabedoria celestial foi perdida. Quantas luzes, quantos ensinamentos desconhecidos! Eles nunca vão nos consolar, nem apoiar-nos. Aquela pouca colheita, apenas um pouco, será suficiente para a árdua caminhada da fé? Por isso, Jesus teve compaixão e decide caminhar ao nosso lado até ao fim, ainda que escondido num “pouco” das Escrituras que nós conservamos freneticamente!
Depois daquele tormentoso  -  porém, não para ti – “reencontro”, voltaste a ... eclipsar-te em Nazaré. Certamente um refúgio menos precário, menos pobre, mas, sobretudo menos humilhante daquela permanência dolorosa na terra do Egito. Como foi num tempo para Israel, também para ti foi amarga a distância da pátria! Mas tu, seguramente, eras uma criança confiante e segura nas mãos de teus pais... Que coisa dissestes? Que coisa aprendeste com aquela breve experiência? Será que no Egito começou a oração solitária?... Mas não respondes; mantiveste tudo em silêncio, portanto inútil provocar-te a revelar alguma coisa sobre os teus sentimentos! E também, da longa estadia em Nazaré, nada foi revelado. Lucas apenas nos recorda que, terminada a festa, voltaste de Jerusalém com teus genitores, retornaste para tua terra e “permaneceste obediente a eles” (Lc 2, 51). “Crescias em sabedoria, em estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52).
O que conhecemos da tua vida transcorrida em Nazaré entre os 12 e os 30 anos, quando iniciaste tua vida pública (Lc 3, 23), está contido em duas palavras: “estavas submisso”!
Outro autor sacro acrescenta, para este tempo de tua vida terrena, uma única e dramática “ocupação”: “Durante a sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus, em voz alta e com lágrimas, ao Deus que podia salvar da morte. E Deus o escutou, pela sua piedade” (Hb 5,7).
As tuas lágrimas, teus fortes gritos, obtiveram a graça de libertar-nos de um destino infeliz. Não havia nenhuma esperança para nós, nenhum consolo. Não podíamos mais “estender a mão para colher o fruto da árvore da vida. Expulsos do jardim do Paraíso, que foi protegido pelos anjos e pela espada chamejante” (Gn 3, 22-24).  Fazíamos a triste experiência da “morte eterna”...
Este o propósito da tua vida: uma súplica incessante para obter a graça do perdão! Caso contrário, que interesse podia haver em vires ao meio de nós num mundo de mortos?
Submisso a cada acontecimento, despiu-se de toda a dignidade para denunciar a vaidade de uma vida miserável, de escravidão, na qual o pecado nos exilou! (Fl 2, 6-11).

Realmente estamos aqui na terra! E vivemos num mundo de sombras; enquanto estás lá em cima! (Jo 3, 31 e 8, 23). Tu vens do alto, estás no topo de tudo, falas do céu. Nós viemos da terra e não temos nada para falar, se não aquilo que pertence a terra. Tu, a luz verdadeira que ilumina nossas trevas. (Jo 1,9). Para o teu mundo não temos olhos especiais. Os mais familiarizados te perguntam: ”onde moras?” (Jo 1, 38). Os nossos olhos incapazes de penetrar o invisível... de tua habitação. Ainda que te oferecesses para isto, para conduzir-nos ao teu reino. É verdade: não és deste mundo, mas, entretanto, nos ensinas a não ser deste mundo. (Jo 17, 16). 
Depois... continuas a ocultar-te também no acontecimento-ressurreição (Páscoa). Tudo isso realizado em silêncio, sem clamor, num lugar solitário, tranqüilo, discreto, sem testemunhas... tanto que os guardas que iriam guardar o sepulcro dormiram!   Algumas mulheres chegam para cumprir os últimos ofícios do enterro. Encontram removida a pedra que fechava a entrada do sepulcro. Porém teu corpo não estava lá. Ninguém viu, ninguém sabe da tua ressurreição! Todos parecem ignorar um fato tão chocante, único, sublime...  Além disso, apareceste a poucos e estes poucos tiveram muita dificuldade em te reconhecer logo! As aparições foram fugazes... Em suma, pareces que queres fazer o possível para banalizar tal mistério: confundir, criar dúvidas, perplexidade... Não pareces ser “capaz de atrair todos a ti”, como prometeste (Jo 12, 32). O mundo continua a ignorar-te e tudo é como antes!
Assim, Mestre, não modificaste os acontecimentos: cuidadoso em não perturbar as consciências, para não correr o risco de escandalizar-nos. Mesmo João Batista, que no ventre de Isabel alegrou-se, santificado pela simples presença de teu corpo concebido no seio de Maria, tornado fiel precursor, te esperou, devorado pelo desejo de ver-te, de ser teu discípulo... Mesmo ele irá se escandalizar de ti! Num momento de escuridão, aquela terrível dúvida: “és tu?”! (Lc 7, 18-23).
Mesmo entre teus concidadãos, não serás aceito. Não compreenderão teu ensinamento, desprezarão a tua fama, desfazendo de tua origem nada nobre (Mt 13, 57).
Pedro se escandalizará de ti! (Mt 16, 22). Também cada apóstolo, na hora das trevas, se escandalizará de ti! (Mt 26,31).
E nós?  Não nos escandalizas ao nos propor a pobreza como felicidade? Com todos os seus... desdobramentos, dolorosos, humilhantes? E a tua insistência em nos recordar que... a nossa condição humana continuará pobre? Não é absurdo que o cansaço, o sofrimento, a luta de cada dia quer sair da humilhação e tu venhas para aconselhar a não se opor ao mal? (Mt 5, 39). Pelo contrário, para afligir-se? Sim, tudo isso é absurdo! Ou como ficar ouvindo quando queres nos convencer que seremos abençoados se nos insultarem? E seremos felizes se formos insultados, oprimidos, perseguidos? (Mt 5, 11). E aquele impossível... “amai vossos inimigos, rezai por eles?” (Mt 5, 44-48)... Em verdade, que “perfeição” é esta?
Muitas vezes tiveste as multidões em tuas mãos, te seguiam, poderias criar um mundo justo com eles, te queriam chefe, até mesmo rei (Jo 6, 15)... Mas tu desprezaste tudo e decepcionaste todos, retirando-te para ficar sozinho!... Que tipo de perfeição proclamas?... Porém é inútil continuar protestando... Sem dúvida, “ninguém te conhece!” E é presunção diabólica afirmar: eu sei quem tu és! Uma falsidade abissal! (Lc 4, 34).
Somente “o Pai conhece o Filho!” (Mt 11, 27)
Jesus, o que o mundo sabe sobre a oferta do teu corpo, do teu sangue derramado para a remissão dos pecados? E o que tem feito do teu prostrar-te aos nossos pés? Da aliança que fizeste conosco para sempre?
Somente o Pai conhece a “perfeição” da tua caridade e contempla, acolhendo a tua misericórdia: “Tu és o seu Filho predileto!” (Lc 3,22). O “mais belo entre os filhos do homem” (Sl 45). Só tu, Jesus, podes abraçar num abraço sem fim, o princípio da vida: “O PAI!”. De tudo o que é seu, te faz dono! (Jo 16, 15) e dele continuas a ser... o filho submisso!

Jesus, há um episódio em que revelas um segredo dessa mútua relação: Tu estás no Pai e o Pai em Ti! Tu és dom do Pai e o Pai, face gloriosa do Filho (Jo 14, 9-10).
Aqui está outro episódio: estamos perto da Páscoa, as multidões, como sempre, te seguem, te escutam. Num certo momento, para testar Felipe, tu falas: “onde vamos comprar pão para matar a fome de tanta gente?”. O local é deserto (Jo 6, 5)... Tu insistes: “vós mesmo é que deveis dar a eles o que comer” (Mt 14,16)... Jesus novamente nos escandaliza: denuncia a nossa incapacidade de compreender, de agir: “o que são cinco pães e dois peixes para tanta gente?” Verdade. Nem mesmo duzentos dinheiros seriam suficientes para alimentá-los...
O que estás fazendo?
Não é tanto o milagre que vai acontecer, mas aquele gesto: “ergueu os olhos para o céu” e aquela palavra “pronunciou a benção” (Mt 14, 13-20 e Lc 9, 11-17).
E o céu se abre! E graças em abundância invadem a terra! Além dos limites...
O pão é distribuído e tu recomendas que nada seja perdido! Ele veio do coração de Deus, é sagrado!
Frequentemente a tentação que nos acompanha nesta vida é que “as pedras se transformem em pães” (Mt 4,3) para nossa fadiga, para o nosso compromisso, para as técnicas que sempre aperfeiçoamos, assim como para estragar uma terra “amaldiçoada”, enfim um pão sem dores! (Gn 3,17).
Não conhecíamos “bênçãos” e nem muito menos “graças” que choviam do alto!
Jesus, só tu sabes levantar os olhos ao céu... e a aliança está pronta. Pronuncias a benção e os cinco pães e dois peixes... é pouco!, mas oferecidos ao Pai, é preenchido com toda a plenitude!
Bem-aventurado aquele que não se escandaliza com a tua Páscoa!  Ardes no desejo de arrastar todos a ti (Lc 12, 49-50 e 22, 14-18).
Sempre estiveste no caminho para esta hora, a tua Páscoa. O teu batismo! Enquanto eles estavam angustiados, não foi realizada. Agora, finalmente, tornaste-te “o homem das dores; desprezado e rejeitado pelos homens” (Is 53).
O Pai vacila: pelo corpo que entregas livremente e pelo sangue inteiramente derramado... “Enquanto isso é concluída tua descida ao “inferno”: de fato acabas pregado numa cruz, para levantar uma vez mais, a última, com os olhos para o céu e pronunciar a benção: ”Pai chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que teu Filho glorifique a ti, fazendo que conheçam o teu nome” (Jo 17, 1-2). Finalmente ofereceu a si mesmo. És um crucificado; Pobre o suficiente para se tornar totalmente abençoado... Vestis a “maldição” do mundo, portanto nas mãos do Pai entregas tua vida (Lc 23, 46). E a abundância do céu transborda sobre a mesa, banquete para todos os povos: “pão” do Pai para todos os que tem fome, jubilosa esperança, única para todos os pobres!

Jesus, como não devemos escandalizar-nos desta tua enésima ...loucura?




E ainda: tua morte destruiu o inferno e o amor venceu e reina para sempre!!

Com paternal afeto,
                                       Dom Sérgio

Nenhum comentário:

Postar um comentário