MOVIMENTO DA ESPERANÇA
ADVENTO - 2014
“SENHOR ... EU SEI QUE
TU ÉS!”...
... O filho de Maria (Lc 1, 30-31) e de José (Mt 1, 18-21). Eles, graças
à sugestão divina, te chamaram Jesus. Estavam próximos a realizar seus sonhos
de amor, quando Maria, inesperadamente, em obediência ao anjo, concebeu o teu
corpo, pela vontade de Deus. José, apenas por expressa vontade divina, receberá
Maria como esposa, pois havia decidido ir embora em segredo; e como filho, tu
Jesus.
Mas não é segredo aquilo que João, o discípulo amado, revela sobre ti...
estavas “no seio de Deus!” (Jo 1, 14-18). Não é suficiente; ainda escreve aos
seus fiéis: “nós, os apóstolos, escutamos, vimos, contemplamos, tocamos na PALAVRA
DA VIDA (1Jo 1, 1-4), porque a “VIDA” se fez visível”; a vida eterna, isto
é, a vida luminosa, inacessível, sempre escondida nas profundezas de Deus...
Agora se manifestava e os apóstolos viram quando Jesus, criado pela Palavra do
Pai, tomou a semelhança de homem. Aconteceu que “o Verbo se fez carne” ...
homem!
Jesus, que mistério insondável o teu corpo!
A Palavra divina não queria que qualquer homem participasse da tua
formação. Não só isso, também o colo que devia acolher-te; a Palavra, com
cuidado, criava uma mãe em quem não houvesse qualquer sombra de pecado: uma
mulher inocente! Cuidadosa em obedecer aos segredos propostos pelo Espírito.
Nela nenhum desejo ou pensamento desordenado... Nem mesmo um suspiro que
estivesse longe da vontade de Deus ou indiferente a esta. No seu íntimo não
poderia guardar ânsia ou temor... Enfim, nada que não gozasse das delícias
divinas.
Que milagre o teu corpo bendito! Saia das mãos do Pai e do útero da mãe, realmente
como ... novo Adão!
Em seguida nos dois corpos, as obras-primas do Verbo criador, serão
revelados os segredos da vida (Lc 1, 35). Unidos para sempre, mãe e filho, o
mais sábio dos “mistérios” divinos: A Encarnação.
Jesus, teu nascimento foi afastado dos ruídos do mundo: nasceste no
segredo de uma gruta. Não havia nenhum outro lugar para dois jovens peregrinos
que vão até Belém para o recenseamento; é tanta confusão... Como sempre nestes
casos, os pobres não tem recomendação; devem encontrar um último lugar e
adaptar-se!
Mas fostes acolhido pelos pastores e alguns estrangeiros vieram de longe,
guiados por uma misteriosa estrela. Aos pastores, pessoas do campo, de pouco
saber, iletrados, habituados a viver com os animais, tu envias... os anjos! Pela
sua linguagem doce e sublime, os pastores se reconhecem adoradores improvisados,
capazes de se envolver na tua glória! Portanto, acolhedores e agradecidos pelo
mistério anunciado... Aos “Magos”,
habituados a olhar o céu, tentando descobrir na imensidão qual o sentido de tal
grandeza, tu fazes brilhar, com luz imprevista e bondosa, a alegria de um
mistério muito diferente: tu, bebê recém-nascido, “envolto em faixas, deitado
em uma manjedoura” (Lc 2, 8-12 e Mt 2, 1-5).
Como todos os nascidos em Israel, vais ser circuncidado no oitavo dia (Ls
2, 21) e teus pais oferecem um sacrifício, segundo a Lei, o montante que
pagavam os pobres! Em Jerusalém, Simeão te aguarda. O Espírito Santo lho
havia preanunciado a tua vinda: um consolo muito desejado!... Será possível que somente ele percebeu a voz
do ... vento divino? (Jo 3, 8) Simeão revela-te como uma promessa de luz
para os gentios, para aqueles magos em particular, que retornaram aos seus
países falando de ti: divulgando a “grande alegria”. Mas serias também “sinal
de contradição”, de ruína e de ressurreição... Porém devias ser, sobretudo,
“salvação preparada diante de todos os povos!” (Lc 2, 25-32).
De qualquer maneira, quando as profundezas escuras do céu e da escuridão
sombria cobrindo a terra, graças a tua presença, se abrem em sinais luminosos
de luz. Tu Jesus, és o único homem que tem livre acesso às regiões da vida; aquele
que possui as origens. Desde o princípio conheces os segredos! Torna-te para
nós o “autor da vida”. Ainda: te deixas mergulhar em um vilarejo de modo nenhum
interessante; porém, nos concedes um episódio da tua juventude: aos 12 anos,
por ocasião da festa da Páscoa, te entretiveste no templo de Jerusalém,
escutando e interrogando os doutores da Lei. Tua humanidade já é “plena de
graça e de verdade” (Jo 1, 14) e atenta às “ocupações de teu Pai!”. Oh! doutores!
Se soubessem quanta riqueza havia naquele corpo de jovem, teriam tentado segurá-lo,
contê-lo, admirar-lhe a inteligência!
Que angústia sentiu Maria, pensando ter te perdido!
Que perguntas fizeste? Poderias realmente precisar ou desejar conhecer as
respostas daqueles doutores? Não eras tu “a luz verdadeira que ilumina cada
homem?” (Jo 1, 9). Somos nós, portanto, que temos a necessidade de fazer
perguntas, incessantemente... E ter luz para dispersar tanta ignorância. Mas
talvez, como disseste a João Batista: “Por enquanto deixe como está, porque
devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3, 15), devemos aceitar reconhecer
simplesmente um menino inteligente, que quer apenas se tornar um filho fiel de
Israel! E mais, envolvê-lo num contínuo esquecimento. Não obstante esconderes-te,
as tuas respostas manifestavam tanta sabedoria, que despertaram grande espanto
em teus ouvintes. (Lc 2, 41-50).
Mais tarde João escreverá que “o mundo inteiro não bastaria para conter
os livros necessários para escrever as muitas outras coisas que ele realizou” (Jo
21- 25). Que tristeza, pois tanta sabedoria celestial foi perdida. Quantas
luzes, quantos ensinamentos desconhecidos! Eles nunca vão nos consolar, nem
apoiar-nos. Aquela pouca colheita, apenas um pouco, será suficiente para a
árdua caminhada da fé? Por isso, Jesus teve compaixão e decide caminhar ao
nosso lado até ao fim, ainda que escondido num “pouco” das Escrituras que nós
conservamos freneticamente!
Depois daquele tormentoso - porém, não para ti – “reencontro”, voltaste a
... eclipsar-te em Nazaré. Certamente um refúgio menos precário, menos pobre,
mas, sobretudo menos humilhante daquela permanência dolorosa na terra do Egito.
Como foi num tempo para Israel, também para ti foi amarga a distância da
pátria! Mas tu, seguramente, eras uma criança confiante e segura nas mãos de
teus pais... Que coisa dissestes? Que coisa aprendeste com aquela breve
experiência? Será que no Egito começou a oração solitária?... Mas não
respondes; mantiveste tudo em silêncio, portanto inútil provocar-te a revelar
alguma coisa sobre os teus sentimentos! E também, da longa estadia em Nazaré,
nada foi revelado. Lucas apenas nos recorda que, terminada a festa, voltaste de
Jerusalém com teus genitores, retornaste para tua terra e “permaneceste
obediente a eles” (Lc 2, 51). “Crescias em sabedoria, em estatura e graça
diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52).
O que conhecemos da tua vida transcorrida em Nazaré entre os 12 e os 30
anos, quando iniciaste tua vida pública (Lc 3, 23), está contido em duas
palavras: “estavas submisso”!
Outro autor sacro acrescenta, para este tempo de tua vida terrena, uma
única e dramática “ocupação”: “Durante a sua vida na terra, Cristo fez orações
e súplicas a Deus, em voz alta e com lágrimas, ao Deus que podia salvar da
morte. E Deus o escutou, pela sua piedade” (Hb 5,7).
As tuas lágrimas, teus fortes gritos, obtiveram a graça de libertar-nos
de um destino infeliz. Não havia nenhuma esperança para nós, nenhum consolo.
Não podíamos mais “estender a mão para colher o fruto da árvore da vida.
Expulsos do jardim do Paraíso, que foi protegido pelos anjos e pela espada
chamejante” (Gn 3, 22-24). Fazíamos a
triste experiência da “morte eterna”...
Este o propósito da tua vida: uma súplica incessante para obter a graça
do perdão! Caso contrário, que interesse podia haver em vires ao meio de nós
num mundo de mortos?
Submisso a cada acontecimento, despiu-se de toda a dignidade para
denunciar a vaidade de uma vida miserável, de escravidão, na qual o pecado nos exilou!
(Fl 2, 6-11).
Realmente estamos aqui na terra! E vivemos num mundo de sombras; enquanto
estás lá em cima! (Jo 3, 31 e 8, 23). Tu vens do alto, estás no topo de tudo,
falas do céu. Nós viemos da terra e não temos nada para falar, se não aquilo
que pertence a terra. Tu, a luz verdadeira que ilumina nossas trevas. (Jo 1,9).
Para o teu mundo não temos olhos especiais. Os mais familiarizados te
perguntam: ”onde moras?” (Jo 1, 38). Os nossos olhos incapazes de penetrar o
invisível... de tua habitação. Ainda que te oferecesses para isto, para
conduzir-nos ao teu reino. É verdade: não és deste mundo, mas, entretanto, nos
ensinas a não ser deste mundo. (Jo 17, 16).
Depois... continuas a ocultar-te também no acontecimento-ressurreição
(Páscoa). Tudo isso realizado em silêncio, sem clamor, num lugar solitário,
tranqüilo, discreto, sem testemunhas... tanto que os guardas que iriam guardar
o sepulcro dormiram! Algumas mulheres
chegam para cumprir os últimos ofícios do enterro. Encontram removida a pedra
que fechava a entrada do sepulcro. Porém teu corpo não estava lá. Ninguém viu,
ninguém sabe da tua ressurreição! Todos parecem ignorar um fato tão chocante,
único, sublime... Além disso, apareceste
a poucos e estes poucos tiveram muita dificuldade em te reconhecer logo! As
aparições foram fugazes... Em suma, pareces que queres fazer o possível para
banalizar tal mistério: confundir, criar dúvidas, perplexidade... Não pareces
ser “capaz de atrair todos a ti”, como prometeste (Jo 12, 32). O mundo continua
a ignorar-te e tudo é como antes!
Assim, Mestre, não modificaste os acontecimentos: cuidadoso em não
perturbar as consciências, para não correr o risco de escandalizar-nos. Mesmo
João Batista, que no ventre de Isabel alegrou-se, santificado pela simples
presença de teu corpo concebido no seio de Maria, tornado fiel precursor, te
esperou, devorado pelo desejo de ver-te, de ser teu discípulo... Mesmo ele irá
se escandalizar de ti! Num momento de escuridão, aquela terrível dúvida: “és
tu?”! (Lc 7, 18-23).
Mesmo entre teus concidadãos, não serás aceito. Não compreenderão teu
ensinamento, desprezarão a tua fama, desfazendo de tua origem nada nobre (Mt
13, 57).
Pedro se escandalizará de ti! (Mt 16, 22). Também cada apóstolo, na hora
das trevas, se escandalizará de ti! (Mt 26,31).
E nós? Não nos escandalizas ao nos
propor a pobreza como felicidade? Com todos os seus... desdobramentos, dolorosos,
humilhantes? E a tua insistência em nos recordar que... a nossa condição humana
continuará pobre? Não é absurdo que o cansaço, o sofrimento, a luta de cada dia
quer sair da humilhação e tu venhas para aconselhar a não se opor ao mal? (Mt
5, 39). Pelo contrário, para afligir-se? Sim, tudo isso é absurdo! Ou como ficar
ouvindo quando queres nos convencer que seremos abençoados se nos insultarem? E
seremos felizes se formos insultados, oprimidos, perseguidos? (Mt 5, 11). E
aquele impossível... “amai vossos inimigos, rezai por eles?” (Mt 5, 44-48)...
Em verdade, que “perfeição” é esta?
Muitas vezes tiveste as multidões em tuas mãos, te seguiam, poderias
criar um mundo justo com eles, te queriam chefe, até mesmo rei (Jo 6, 15)... Mas
tu desprezaste tudo e decepcionaste todos, retirando-te para ficar sozinho!... Que
tipo de perfeição proclamas?... Porém é inútil continuar protestando... Sem
dúvida, “ninguém te conhece!” E é presunção diabólica afirmar: eu sei
quem tu és! Uma falsidade abissal! (Lc 4, 34).
Somente “o Pai conhece o Filho!” (Mt 11, 27)
Jesus, o que o mundo sabe sobre a oferta do teu corpo, do teu sangue
derramado para a remissão dos pecados? E o que tem feito do teu prostrar-te aos
nossos pés? Da aliança que fizeste conosco para sempre?
Somente o Pai conhece a “perfeição” da tua caridade e contempla, acolhendo a tua misericórdia: “Tu és o seu
Filho predileto!” (Lc 3,22). O “mais belo entre os filhos do homem” (Sl 45). Só
tu, Jesus, podes abraçar num abraço sem fim, o princípio da vida: “O PAI!”. De
tudo o que é seu, te faz dono! (Jo 16, 15) e dele continuas a ser... o filho
submisso!
Jesus, há um episódio em que revelas um segredo dessa mútua relação: Tu
estás no Pai e o Pai em Ti! Tu és dom do Pai e o Pai, face gloriosa do Filho
(Jo 14, 9-10).
Aqui está outro episódio: estamos perto da Páscoa, as multidões, como
sempre, te seguem, te escutam. Num certo momento, para testar Felipe, tu falas:
“onde vamos comprar pão para matar a fome de tanta gente?”. O local é deserto
(Jo 6, 5)... Tu insistes: “vós mesmo é que deveis dar a eles o que comer” (Mt
14,16)... Jesus novamente nos escandaliza: denuncia a nossa incapacidade de
compreender, de agir: “o que são cinco pães e dois peixes para tanta gente?”
Verdade. Nem mesmo duzentos dinheiros seriam suficientes para alimentá-los...
O que estás fazendo?
Não é tanto o milagre que vai acontecer, mas aquele gesto: “ergueu os
olhos para o céu” e aquela palavra “pronunciou a benção” (Mt
14, 13-20 e Lc 9, 11-17).
E o céu se abre! E graças em abundância invadem a terra! Além dos
limites...
O pão é distribuído e tu recomendas que nada seja perdido! Ele veio do
coração de Deus, é sagrado!
Frequentemente a tentação que nos acompanha nesta vida é que “as pedras
se transformem em pães” (Mt 4,3) para nossa fadiga, para o nosso compromisso,
para as técnicas que sempre aperfeiçoamos, assim como para estragar uma terra
“amaldiçoada”, enfim um pão sem dores! (Gn 3,17).
Não conhecíamos “bênçãos” e nem muito menos “graças” que choviam do alto!
Jesus, só tu sabes levantar os olhos ao céu... e a aliança está pronta.
Pronuncias a benção e os cinco pães e dois peixes... é pouco!, mas oferecidos
ao Pai, é preenchido com toda a plenitude!
Bem-aventurado aquele que não se escandaliza com a tua Páscoa! Ardes no desejo de arrastar todos a ti (Lc 12,
49-50 e 22, 14-18).
Sempre estiveste no caminho para esta hora, a tua Páscoa. O teu batismo! Enquanto
eles estavam angustiados, não foi realizada. Agora, finalmente, tornaste-te “o
homem das dores; desprezado e rejeitado pelos homens” (Is 53).
O Pai vacila: pelo corpo que entregas livremente e pelo sangue
inteiramente derramado... “Enquanto isso é concluída tua descida ao “inferno”:
de fato acabas pregado numa cruz, para levantar uma vez mais, a última, com os
olhos para o céu e pronunciar a benção: ”Pai chegou a hora. Glorifica o teu
Filho, para que teu Filho glorifique a ti, fazendo que conheçam o teu nome” (Jo
17, 1-2). Finalmente ofereceu a si mesmo. És um crucificado; Pobre o suficiente
para se tornar totalmente abençoado... Vestis a “maldição” do mundo, portanto
nas mãos do Pai entregas tua vida (Lc 23, 46). E a abundância do céu transborda
sobre a mesa, banquete para todos os povos: “pão” do Pai para todos os que tem
fome, jubilosa esperança, única para todos os pobres!
Jesus, como não devemos escandalizar-nos desta tua enésima ...loucura?
E ainda: tua morte destruiu o inferno e o amor
venceu e reina para sempre!!
Com paternal afeto,
Dom Sérgio